André Carneiro, o destruidor de aviões
Fato verídico, melhor contado pelo André
Era dia de aniversário de Atibaia, cidade mais velha do que Ouro Preto, no ano 72 ou 73. Bem cedo chegaram quatro aviões da Esquadrilha da Fumaça e todo mundo ficou alvoroçado com as aéreas piruetas. Atibaia tinha um velho campo de aviação de terra batida, ao lado do cemitério. Só no seu comprimento podiam aterrissar aeroplanos leves, pois plana só havia uma pequena faixa, o resto subia íngreme em toda a extensão. Chegamos de manhã, o Prefeito Olavo, meu amigo, seu filho e eu ficamos na parte alta. Ali estavam estacionados três aviões, longe um do outro mais ou menos 30 metros, na forma de triângulo irregular. Permaneciam simplesmente ali, não vimos nenhum tripulante. Havia pouca gente no campo. Ficamos na parte alta, na frente do primeiro avião estacionado, conversando. Daí a pouco, o quarto avião, ainda voando, aproxima-se para aterrissar. Nós três visualizamos o pouso no meio do campo. Percebemos haver algum problema. Ele estava próximo do fim, depois havia uma rua e logo o muro do cemitério. O avião não parou. Chegando à rua, continuou, bateu no muro, entrando uns três metros cemitério adentro. Pude enxergar a hélice quebrada, mas a cabine estava intacta, nada sofrera o piloto. O Prefeito, promotor da festa, desceu para cuidar do acidente. Seu filho ficou onde estava, eu também. O avião estacionado em minhas costas. De repente notei um olhar estranho do filho do Prefeito. Olhei para trás. A asa se movimentava, o avião vinha lentamente na minha direção. Talvez condicionado pelos filmes de heróis salvadores, saltei para a frente e segurei com as duas mãos mais ou menos na metade da asa direita, inclinei meu corpo e firmei atrás meus pés. Consegui apenas riscar fundo o chão. O avião me arrastava. Fiz mais um segundo de esforço e percebi que eu não iria paralisar toneladas. Atirei-me no chão, a asa passou por cima do meu corpo. Estendido na terra, me assustou o que eu podia prever. Meu esforço feito na asa direita fizera a asa esquerda rodar um pouco mais. Na posição original, o avião iria se espatifar no muro do cemitério. Agora ele descia cada vez mais rápido na área íngreme do campo, diretamente na direção do segundo avião estacionado. Ainda deitado, ouvi o estrondo forte. O segundo avião me pareceu ter saltado para a frente, saindo exatamente na direção do terceiro avião estacionado. Houve um entrelaçamento das asas, ambos pareciam abraçados, o motor apontando para cima. Fui para casa com aquela visão. Peguei a câmera, aquele abraço, que provocara, tinha de fotografar. Quando contei a história, meus familiares se assustaram. Alguém preveniu. “E se algum sujeito diz que viu o André Carneiro empurrando um avião em cima do outro?” Essa foto eu a tenho só na minha memória…
Uma foto que existe só na minha memória, ou como destruir três aviões, do livro Fotografias Achadas, Perdidas e Construídas.