O livro que sobrou
Espaço Pleno, de André Carneiro, é um desses objetos que ultrapassam sua função inicial. Mais que um livro de poemas, é obra de arte de grande beleza plástica. De confecção quase artesanal o livro impresso na década de sessenta, na Gráfica Revista dos Tribunais, foi realizado pelo processo tipográfico em clichês/xilogravuras do artista plástico Luís Diaz, que também realizou o planejamento gráfico. A apresentação foi feita pelo Domingos Carvalho da Silva. De tiragem reduzida, uma caixa desses livros foi parar no atelier do artista plástico e gravurista Joaquim Gimenes Salas. Gimenes, que também morava em Atibaia, era amigo do André e guardava em seu espaço alguns de seus pertences, como no caso dessa caixa de livros. Após o falecimento do Gimenes, em 1983, as aulas de artes que ele dava para crianças foram interrompidas e em seu lugar entrou Márcio Zago. Durante o período em que utilizava o mesmo atelier do Gimenes, Márcio Zago realizou várias arrumações no espaço, e a cada nova faxina “surrupiava” um dos objetos que julgava de importância, prevendo que o fim para eles poderia ser trágico. Não deu outra. Tempos depois grande parte do material que estava no atelier foi destruída. Dois únicos livros “retirados” da caixa foi o que sobrou dessa edição em Atibaia (pelo menos é o que se tem noticia). Um deles ainda está em posse de Márcio Zago, o outro foi passado ao também escritor Euclides Sandoval, que por sua vez passou ao médico e poeta Carlos Pessoa Rosa. Atualmente esse livro é catalogado como obra rara na Biblioteca Mário de Andrade – SP. Na primeira edição da Semana André Carneiro um exemplar foi encontrado num sebo e adquirido pela Prefeitura de Atibaia. Ele estava em estado deplorável, sendo restaurado e integrado ao acervo da Biblioteca Municipal Joviano Franco da Silveira, que até então não dispunha de nenhum exemplar.